terça-feira, 15 de março de 2011

Crônica do Professor

Segunda-Feira, mais um dia  típico de inverno no interior de São Paulo - daqueles em que faz frio pela manhã e esquenta a tarde.
Pedro desperta, meio sonolento, ao som irritante de seu despertador. Ele se levanta, toma um banho rápido, veste suas roupas e toma um café as pressas. Mais uma semana de trabalho o espera...
A caminho da escola se depara com as mesmas pessoas de sempre, um ou outro aceno para cá, um sorriso para lá, e assim segue sua jornada até a escola onde leciona.
Pedro é simpático, inclusive nas segundas feiras - dia do mau humor. Assim que chega a escola seus alunos os vem receber, ele é muito querido por seus educandos. Depois de uns abraços, uns apertos de mão e muitos sorrisos ele se dirige para a sala dos professores. O pesadelo vai começar:
- Ai Pedro esses demônios não te deixam em paz. Como você aguenta?
- É Pedro, ai se fosse comigo...
Pedro odeia ficar na sala dos professores, lá é o local onde ele ouve os mais absurdos comentários sobre educação. Toda vez que é obrigado a ficar lá por uns minutos ele se pergunta o por que de deus não ter feito o homem com audição seletiva. E a tortura continua:
- Esse país não tem jeito. Bom mesmo eram os tempos da ditadura militar. Naquele tempo sim havia disciplina.
- Ah com certeza, quando minha mãe estudava os alunos não davam um pio na sala. Se falasse fora de hora apanhava, naquela época sim era bom. Havia respeito, os alunos tinham medo do professor.
- Mas hoje ninguém respeita mais, são todos um bando de mal criados, sem educação, não estão nem ai para nada.
Pedro ouve calado, e se corrói e meio a tanta falta de senso. Pedro sabe dos problemas da Educação no Brasil - e sobretudo no estado de São Paulo - , sabe do quanto o professor tem sido banalizado hoje em dia - com salários miseráveis, divisão da classe em categorias, e falta de autonomia e recursos em sala de aula. Porém Pedro é um guerreiro e não desiste de lutar - dentro e fora da sala de aula. Pedro é um ativista, tanto na luta sindical quanto nas causas sociais que o cercam.
Ele tem a consciência de que é um ser ainda inacabado, que aprende a cada dia, a cada aula que aplica, a cada diálogo com um aluno, a cada greve, a cada manifestação... Sabe da importância de estar sempre se questionando, se atualizando, aprendendo com seus erros, sendo solidário com seus semelhantes e lutando por melhores condições de vida.
Sim, Pedro sabe de todas essas coisas. É por isso que sofre tanto ao ouvir as baboseiras de seus colegas - mas não de todos. Porém, ele logo vai para sala, onde se sente bem. Ministra suas aulas com confiança e boa vontade. Ouvindo e sendo ouvido, dando broncas e sorrisos. Sendo humano.
Ao final do dia, ele está exausto, entretanto volta para casa com a sensação do dever cumprido. Ele deu o melhor de si, cometeu alguns erros, outros acertos. E agora poderá descansar, pensar e repensar suas atitudes - como gosta de fazer. Para então no outro dia começar tudo denovo...

... assim são os dias de meu querido Professor Pedro.


Marco Aurélio

4 comentários:

  1. Marco Aurélio: - Minha primeira postagem no Blog galera. Já que todos fazemos licenciatura resolvi fazer essa crônica. Espero que tenham gostado. Abraços.

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  2. poxa,adorei esse conto...e é díficil mesmo esses professores céticos e tudo mais,é desanimador!

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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