sexta-feira, 24 de junho de 2011

O Salário do Medo - Resenha do Filme


O filme dirigido por Clouzot é rodado nos anos 50. Tem como pano de fundo o pós-guerra, a guerra fria e a hegemonia imperialista-neoliberal.
O filme retrata a história de um grupo de homens desempregados e miseráveis que vivem em um vilarejo da Guatemala. Eles aceitam a missão suicida de levar uma carga de nitroglicerina até um incêndio que está acontecendo em um poço de petróleo de uma empresa estadunidense.
No desenrolar da trama observa-se até onde vai o valor da vida humana, e como esse valor pode ser trocado por dinheiro. Como já dissemos, a lógica neoliberal ronda as cenas, e é possível ver seus signos no desenrolar destas.
Além do aspecto político ideológico que norteia o filme, há também excelentes diálogos, cenas que fogem aos clichês e chavões do cinema, e ainda um complexo retrato das relações humanas. O declínio de uma das personagens, diante do perigo iminente, por exemplo, nos mostra uma personalidade covarde aflorando pelos poros de uma imagem de “machão” completamente forjada.
No fim, a missão acaba sendo bem sucedida, um dos caminhões consegue chegar ao seu objetivo. Isso com apenas um dos integrantes da equipe vivo. Este recebe sua parte da recompensa e a de seu companheiro, e no regresso, morre – despencando de uma encosta após perder o controle de seu veículo.
O tempo todo, durante as cenas, podemos ver um jogo com a vida humana. A face da fome, da miséria e da desesperança misturada a tensão em que se encontram as personagens. Ao final de tudo, há o desfecho da trama, onde não há nenhum vencedor se não o sistema. Este sim ganhou, pois o problema com o incêndio foi sanado, mesmo que tenha sido ao custo de muitas vidas.
É resumidamente isso que podemos identificar na obra de Clouzot. Ou seja, a fome do capitalismo neoliberal engolindo vidas, a exploração descarada dos países periféricos (3º mundo) e tímidas manifestações do espírito humano, como medo, fome, desespero e laços afetivos de todo gênero, espremidas pelo braço forte do sistema.

Cenas curiosas: O Chefe da empresa (estadunidense), na hora da partida tem uma fala que mostra que ele mesmo se vê como um parceiro menor de tudo aquilo: - Se fosse 20 anos mais jovem, ia eu mesmo levar esse caminhão.
A cena final, em que o personagem Mário despenca da ribanceira tem como trilha sonora a sinfonia de Strauss que marcou o espírito otimista da burguesia. Ou seja, podemos fazer uma associação entre a ascensão da burguesia e o declínio da vida humana.


Marco Aurélio

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