segunda-feira, 25 de julho de 2011

Segunda-Feira / Ônibus










Trin trin trin, toca o relógio despertador, o sujeito acorda. Meio tonto, cabeça pesada, ainda entorpecido pelo álcool ingerido na noite que passou. Já se fora o fim de semana, e uma nova está para começar.
Fazer o que, é este o destino da grande maioria, acordar cedo quase todo dia e labutar até o final da tarde -em troca de seu ganha pão.
Ele se levanta, vai até o banheiro, lava o rosto as pressas, volta ao seu quarto, veste umas roupas de qualquer jeito e se prepara para engolir o café amargo da manhã. Já na mesa, troca algumas palavras rápidas com sua mãe - que incrivelmente já está de pé há um bom tempo. Uma rápida higiene bucal, e um beijo em sua velha mãe o lançam nas ruas. Agora, o dia começa para valer.
O ônibus da manhã normalmente chega rápido, mas sempre está lotado, e as mesmas caras de sempre - embaçadas, inexpressivas, pálidas... É neste ônibus que este sujeito viaja todas as manhãs, sem saber o nome de ninguém, nem ao menos o do motorista. Desconhece qualquer detalhe sobre a vida daqueles que estão confinados no mesmo lugar, todos os dias, todas as segundas feiras, a mesma coisa.
E na volta, não é nada diferente. As pessoas cansadas, exauridas, sem forças nem ao menos para expressar seu sofrimento. Ele se senta, e aguarda a partida do ônibus. A cada passageiro que sobe e caminha pelo corredor, uma expectativa. Pode ser uma garota bonita, que se sentará ao seu lado e alegrá a grande droga que foi o seu dia. Ou pode ser um cara xarope e espaçoso, que vai roçar seus membros pesados no pobre diabo a viajem inteira, ou então alguém que irá perturbá-lo com a música insuportável de seu celular sem fone.
Muitas das vezes a expectativa não se concretiza de nenhuma maneira, e o banco ao seu lado fica vazio. Por um lado é bom, pois haverá espaço para que o individuo fique a vontade, por outro é ruim, afinal, o pobre infeliz é tão desgraçado que nenhuma alma viva almejou sentar-se ao seu lado.









Assim são as segundas-feiras da maioria desse nosso povão, não só as segundas, como as sextas, os sábados e os domingos. Afinal, neste sistema nosso que é tão desigual, a diversão é privilégio de poucos. Pois além de não termos privilégio algum, ainda nos furtaram a criatividade, convencendo-nos de que a melhor forma de diversão é a dos que nos oprimem. Isso sim é uma grande sabotagem, e um crime sem perdão.





Marco Aurélio

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