segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Os miseráveis / Furto








Furto
Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.

João vasculha a biblioteca, procura algo interessante para ler. A bibliotecária – que na verdade é uma professora afastada – o fita por cima de seus óculos de grau.
Parece não haver nada de muito atraente, tanto nas estantes quanto por trás dos óculos da bibliotecária. Ele passa a vista pelos volumes, ainda outra vez, e já desanimado se prepara para voltar para a sala - de mãos vazias.
Então, percebe um livro de capa simples, toda preta, com o seguinte escrito em dourado: Os Miseráveis. Este parece ser um livro de bom tamanho para João, ele retira o volume da estante, passa pela burocracia costumeira e volta para a sala de aula. Com o livro em mãos mal consegue ver as duas ultimas aulas de matemática.
Folhando as primeiras páginas percebe tratar-se de um romance, com histórias bastante tristes. Acompanhando a dura vida das personagens, começa a refletir. O título, Os Miseráveis, parece bem ambíguo para João.
Afinal de contas, a cada avanço da narração o garoto se convencia mais e mais de que Miseráveis não eram as personagens que viviam em condições paupérrimas, mas sim os “nobres” e burgueses que massacravam o populacho baseando-se nas razões mais mesquinhas, demonstrando com clareza toda a sua fraqueza moral e o esvaziamento de suas almas humanas.
João sensibiliza-se com o drama das personagens e devora o livro no mesmo dia. Ao final da leitura, estava diferente. Percebera que o mundo narrado por Victor Hugo não é lá muito diferente do nosso.
A diferença é que no momento Histórico que o autor retrata – brilhantemente – a exploração era descarada, e no presente instante é maquiada, está na penumbra.
Muitas dúvidas passavam pela cabeça de João naquela noite, mal conseguira jantar. Será mesmo que roubo é crime? Então por que nem todos que roubam são presos? Por que uns tem tão pouco e outros tem tanto? Será que deus fez isso de propósito para que as pessoas precisassem roubar dos que tem muito? E será mesmo que roubar para comer é crime, quando furtaram de ti todas as condições necessárias para se prover o próprio sustento?
João já não sabia mais se todas essas coisas eram verdades. Desde pequeno aprendera que é errado furtar. E agora, nada mais faz sentido. A impressão que João tinha é de que todas essas leis sobre roubo foram inventadas por aqueles que têm muito, a fim de evitar que as pessoas que não tinham nada pegassem de volta umas migalhas do que lhe foi saqueado.
Aquele livro realmente agitou a mente de João, fazendo-o perceber que a miséria pode significar riqueza, e que a riqueza pode significar miséria.



Somente lembrando ao amigo leitor, que em nenhum momento almejo - com essa crônica - incentivar roubos ou furtos. Apenas quero fomentar uma reflexão. Afinal, neste país o rigor da lei somente se aplica ao povão. Os Donos do Poder, e verdadeiros criminosos jamais são presos. Sendo capazes de conseguir dois Habeas Corpus no mesmo dia. É isso, espero que tenham gostado. Abraço a todos e até a próxima postagem.




Marco Aurélio

2 comentários:

  1. Eu ainda preciso ler o original (Só li aquela versão infanto-juvenil)..as vezes não sei se recomendo muitas reflexões,as vezes chego em conclusões que me deprimem...hauhauha!


    continuem postando! :D

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  2. É uma honra ter uma leitora como você =D

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