quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Mais uma do Professor Pedro


O Professor Pedro voltava para casa. Havia sido um longo dia de atividade, porém tão agradável que ele não apresentava o menor sinal de cansaço.
Era uma bela noite de setembro, e nosso já conhecido docente caminhava, despreocupadamente, pelas ruas da cidade - sim ele havia deixado na garagem o carro que tanto o aborrecia. Então, decidiu tomar um café antes de apanhar o ônibus, e como estava próximo ao Méquidonaldis, foi lá mesmo que foi buscá-lo.
Já no balcão, o Professor Pedro pediu um copo de café e um lanche - um daqueles da promoção - e aguardou. Durante a espera trocou umas palavras com a balconista, que era bastante simpática, para distrair-se um pouco, enquanto seu pedido não vinha. Não tardou muito e lhe entregaram uma bandeja com o que pedira. Então ele se sentou e apreciou sua refeição noturna.
Depois de comer seu lanche - que acabou rapidinho - ele decidiu acabar seu café do lado de fora, onde poderia terminar um cigarro de palha que havia deixado pela metade. Foi então que ele se levantou e caminhou calmamente para fora do estabelecimento. Já ao ar livre tateou seus bolsos até encontrar o "palheiro", mas não encontrou os fósforos. Estava sem fogo. Neste momento procurou por alguém que lhe pudesse ceder uma "brasa", e rapidamente avistou um grupo de estudantes sentados no estacionamento. Percebeu que alguns deles estavam fumando, e dirigiu-se até eles.
- Olá, desculpem-me por incomodá-los, mas será que um de vocês poderia me emprestar um isqueiro? - disse o professo Pedro com toda educação possível.
Seu pedido é prontamente atendido. Ele coloca seu copo de café no chão e calmamente acende seu cigarro. É nesse instante que ele percebe uma bonita garota - do grupo de estudantes - a lhe fitar. Os olhos dela eram castanhos, e brilhavam.
O Professor Pedro, embora bastante jovem, já vivera o suficiente para enrijecer-se contra esses assuntos do coração, porém o intenso olhar daquela garota o deixou meio abalado, um tanto quanto sem jeito. Foram alguns segundos apenas, exatamente o tempo que ele levou para acender seu cigarro, porém na memória de Pedro parecia muito mais.
- Muito obrigado, tenham uma ótima noite - diz o nosso docente, ainda desconcertado.
- De nada, você também. - emenda a garota, com uma voz suave.
E lá se vai o Professor Pedro, caminhando pelas ruas, reflexivo, e com o bonito retrato daqueles olhos brilhantes a lhe fitar.
Deveras aquele foi um dia agradável, que terminava alegremente, como há muito tempo não acontecia. Foi esta a conclusão que ele teve durante a viagem de volta. Cheio de cafeína nas veias, e de pensamentos na cabeça, ele ponderava.
Era incrível como algumas coisas tão pequenas eram capazes de animar a vida, e devolver o otimismo que o presente sistema insistia em lhe furtar. Cada dia mais ele se convencia de que as maiores necessidades dos homens são abstratas. Como o que ele sentira ao perceber o sorriso e os olhos brilhantes daquela jovem. Nem o café, nem o lanche e nem o cigarro, o que Pedro mais necessitava naquele momento era a agradável e abstrata sensação que aquela garota lhe causou. Abstrata, pura e simplesmente, abstrata.



Marco Aurélio




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