quinta-feira, 31 de maio de 2012

Poema - Carlos H. Molina



Quase sem piscar,
eu percebo que a noite está mais escura.
Agora, sozinho em meus sonhos acordados,
estou fatalmente a sós comigo mesmo.
Nem o barulho do giro surdo da Terra,
nem o barulho do que anda sobre a Terra.

Nada, senão o domínio total do silêncio da noite.

Silêncio da noite que me diz tudo que preciso ou não ouvir,
E me mostra exatamente como eu deveria ser.
Todas as coisas que eu poderia fazer, poderia começar, poderia me empenhar...
Noite que sussurra ideais incríveis;
Noite que aponta todas as soluções cabíveis,
Que embala alguns para o mérito do descanso
Que hipnotiza, inspira e consome outros – assim, exatamente, como eu.
Noite que me contradiz nas minhas poucas certezas pessoais,
Que me torna humano demais ou divino demais;
Que, em seu silêncio, nessa hora grave da madrugada,
Ressuscita momentos esquecidos para eu viver novamente
Demasiadamente, completamente, em cada pífio detalhe.

Noite que zomba de mim em minhas preces
Noite que eu sinto em meu coração como um milhão de anos apaixonado
Noite que mascara meus desejos com quadros, imagens e fotografias
E que me torna detento do cárcere deste universo infinito

Noite que maternalmente amamenta a minha insônia
Que faz com que eu deseje estar bêbado, ou morto, ou correndo lá fora
Noite que me dá o que mais quero, e que me tira o que mais preciso
Noite que me assiste escrevendo isso aqui.

Está tudo mais escuro.


(O Sol virá? Sim, virá - veja:
Como veio ontem, e antes de ontem;
E com ele a luz da realidade acordada
-“A única pupila que ilumina e ofusca o que vê.”
O mesmo Sol, sobre as pedras que jamais acordam


Com ele virá o amanhecer,
O despertar de mim mesmo para o dia:
Um outro dia, um novo mesmo amanhã.


Com ele virá a sensação de que amo o que penso que sou
Virá a nitidez da minha loucura sonâmbula
Virá a dispersão e o esquecimento das íntimas ânsias noturnas,
A sublimação dos sonhos que sonhei acordado -
Enquanto eu adormeço junto àquele outro
Que penso que poderia ser.)


Carlos H. Molina 

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Eu contra o trabalho.

Hoje eu acordei às 7h da manhã em ponto, como de costume, com o barulho do rádio dos vizinhos de baixo ouvindo música evangélica. Não, este ultimo detalhe não é o problema. O problema é o fato de serem um casal de pessoas já aposentadas, que tendem à levantar todos os dias da semana às 6h da manhã, como se fossem trabalhar, mas não vão. É como se fosse um ritual macabro, aonde eles encenam à rotina do trabalho, mesmo sem tê-lo. Eles tentam reviver uma coisa já morta. Enquanto o homem troca de roupa a mulher faz o café, e às 7h em ponto, eles já prontos, percebem que aquilo tudo não passa de uma ilusão, então ambos procuram euforicamente algo para se ocuparem, para que o dia passe logo e para que chegue logo o amanhã, para poder reviver toda essa ilusão amarga. Até quando as pessoas vão viver sob essa ditadura do emprego? Até quando vamos viver atrelados à essa idéia burguesa que "o trabalho dignifica o homem"? Até quando vamos jogar tempo útil das nossas vidas fazendo horas extras, para a alegria do patrão? Temos que entender de uma vez por todas, que o trabalho é uma imposição, trabalho é escravidão assalariada, e que nenhum centavo vale 1 milésimo de tempo das nossas vidas. Não existe trabalho bom. Não existe "gosto do meu trabalho", isso é porque te ensinaram que você não tem outra escolha. Eu trabalho sim, mas odeio aquilo que eu trabalho, e vou continuar odiando, cada dia mais, pois eu tenho consciência que a minha vida é unica, e me mata a cada minuto saber que eu perco cada segundo com esta merda. Eu contra o trabalho!

Eu não ligo pra sua opinião.

Thales B. Souzedo

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Rompendo Amarras

Era começo do mês de maio, apesar do clima ameno de outono os ânimos estavam quentes na Universidade onde a jovem Rosa cursava Jornalismo.
Ela nunca se ligou muito em política, apenas mantinha o costume de ler o jornal por que gostava da ideia de ser jornalista, mas artigos de política nunca foram seu forte.
Era uma sexta feira, Rosa desceu para o intervalo, e enquanto esperava na fila da cantina para comprar seu Cappuccino foi abordada por um jovem militante.
- Olá, você já conhece a chapa Rompendo Amarras?
Rosa sorriu, se lembrou que não fazia muita ideia do que estava acontecendo, e jamais tinha ouvido falar da Rompendo Amarras. A única chapa que ela tinha visto era a  que já estava na gestão do DCE, a chapa da Festa, como seus colegas de classe costumavam dizer.
- Não. Mas gostaria de conhecer. - emendou Rosa.
Então o jovem militante falou durante uns dez minutos sobre movimento estudantil; os olhos de Rosa brilhavam ao ouvir aquelas coisas, ela realmente nunca tinha imaginado que o movimento estudantil era capaz de fazer tantas coisas. 
Depois de ouvir o estudante, Rosa voltou para a sala. Lá, ficou ponderando sobre o que ouviu no intervalo. Ela estava muito animada, e ao mesmo tempo indignada por saber que os estudantes que estavam ocupando o DCE só pensavam em fazer festa, usar a instituição como trampolim político e realizar trotes machistas. Sem dúvida era mesmo a chapa da festa, e não só da festa como a chapa da banana. 

...

No dia do debate Rosa se sentou na primeira fila, estava ansiosa para ouvir as ideias dos estudantes. Na mesa estavam os representantes das duas chapas, a chapa da banana já tinha fugido de dois debates, mas desta vez estava lá. Tudo estava preparado para a contenda.
Nas ultimas cadeiras do auditório estavam os animados caras de História, com narizes de palhaço e cartazes com palavras de ordens marcaram presença e fizeram bastante barulho. O CA do curso deles era o Único CA de Oposição ao DCE, e muitos dos seus membros compunham a chapa Rompendo Amarras.
Rosa sorriu, achava engraçado o ânimo daquele pessoal.
...

O debate foi bastante interessante, a Rompendo Amarras deu um espetáculo, e deixou o pessoal da "Tudo Será Como Sempre Foi" um tanto quanto irritados. Com questionamentos incisivos e posturas extremamente criticas ganharam a simpatia do público que estava cansando do blá blá blá de sempre.
Ao fim do debate Rosa foi cumprimentar o pessoal da Oposição e prometeu que ia votar neles.

...

No dia da eleição Rosa chegou bem cedo. Ela decidiu que além de votar na Oposição ia ajudar na campanha. Pegou uns panfletos, colou um adesivo na jaqueta Jeans e começou a abordar os outros estudantes. 
No período que nossa jovem estudava a recepção era boa, o pessoal já estava cansado da atual gestão e queria mudança. Muitos votaram na Oposição, e ao final da manhã parecia que a Rompendo Amarras ia conseguir vencer, mesmo com tão poucos recursos. Havia uma grande esperança de que eleição ia ser ganha no grito, afinal mesmo sem panfletos caríssimos em formato de revista, camisetas para distribuir, adesivos e seguranças contratados, o pessoal da Oposição tinha mais coração, e estavam realmente empenhados em lutar.

...

A noite, Rosa não aguentou e foi acompanhar apuração dos votos. Quanta expectativa.

...

Infelizmente não deu para a Rompendo Amarras. Por uma pequena diferença de duzentos e poucos votos foram derrotados pela Situação. Mas não se abateram, estavam felizes pelo trabalho que fizeram, toda a luta e o excelente debate promovido dentro da Universidade.
Além disso, todo esse esforço rendeu frutos. Foi graças a essa campanha que pessoas como Rosa se animaram a participar dos debates acerca da política dentro da sua Universidade, a se informar mais e tomar uma postura mais crítica sobre a sociedade.
Rosa estava feliz. Feliz por estar se movimentando. E orgulhosa por saber que carregava o mesmo nome da célebre autora desta frase:

"QUEM NÃO SE MOVIMENTA NÃO SENTE AS AMARRAS QUE O PRENDEM. - ROSA LUXEMBURGO.





Marco Aurélio






sábado, 5 de maio de 2012

AUTORITARISMO



O autoritarismo está presente na nossa cultura, é um câncer da nação. Oriundo de um passado escravagista, é uma das permanências das relações entre as pessoas, é cultivada em todas as instituições (sendo ela também uma instituição), na família, ela está na educação dos filhos, no Estado e na empresa; ela é violência para o controle da massa.

A autoridade passa, manda e desmanda
Dá tesão ou gera tensão
É aclamada e legitimada para o bem da nação
O povo passa, ora se revolta, ora se encanta

A chibata, o cassetete e a submissão
A pele roxa e a cicatriz são marcas sociais
A posse da razão e a posse da violência
Deixa muda, cega e surda

A ordem obedecida
A autoridade respeitada
A paz e a calmaria
A autoridade triunfa

Está nas escolas, nas indústrias e nas ruas
Está no senso comum e nas leis
A lei nua
A alegria do rei

 OTÁVIO SCHOEPS

Contos Causos e Crônicas do Índio


- Não sei! No coletivo superlotado a passageira não soube responder a pergunta que lhe fez a menina.
Na era da informatização não há mais lugar para certas fantasias, é tempo de ceder e aprender com os mais jovens. 

Não Invente

O conceito de um maravilhoso tempo de outrora deve ser revisto. Ficará óbvio que tomarei como exemplo determinada época, lugar e situação daquele momento, onde é possível que, para alguns não tenha sido tão ruim, porém não perfeito quanto espalham os saudosistas.
Quanto mais se vive, mais se aprende, nos ensina a teoria, no entanto direi que longevidade não é sinônimo de sabedoria. 
Conheço idosos dignos da luz do velho que desce da montanha - ele aponta o bom caminho àquele que nele crê - mas não podemos disfarçar que existem os arrogantes. Estes exigem tudo, sem oferecer nada em troca; não é exagero nenhum destacar a discriminação com que tratam preferências atuais protegidas por leis oficias e falam daquele tempo onde tudo era perfeito: os filhos exemplares e obedientes - será? - ; os românticos casais que só davam - as mãos - após o matrimônio; inexistia o adultério - ; não? He! he! - e a ordem pública - da força - predominava.
- Êpa! O santo é de barro, devagar com o andor que a história não é bem assim. Diria Braga Patelê, o velhinho iluminado, protegido pelo Anjo Tropeiro, portanto, não adepto a meias verdades.
Não precisaremos forçar a memória para recordar da mesma década onde desapareceram misteriosamente tantos que não aceitaram a vida de gado imposta.
Onde estava democracia e o direito de ir e vir? 
O divórcio era pecado, os cônjuges eram obrigados a conviver sob o mesmo teto "até que a morte os separe", todavia havia o desquite tão condenado pelos moralistas, tenho pena das desquitadas. Atiravam-lhes a primeira e tantas outras pedras. Futuras "mães solteiras" foram expulsas de casa ou espancadas. Olhem ai o aborto clandestino.
Quem não se lembra do casamento na polícia? O Delegado mandava deter o namorado apressadinho. Pode?  Quem sabe o que é legitima defesa da honra... 
Certo dia a menina fugiu quando lhe apresentaram o sitiante mal cheiroso. Seu pai havia marcado seu casamento... Não daremos mais detalhes sobre o episódio quanto revoltante...
Vi o menino de catorze meses deixar de ser atendido no posto de saúde. Agonizou quarenta dias antes de vir a óbito.
O Médico, candidato derrotado nas eleições admitiu a omissão de socorro. Motivo: A mãe do pequeno paciente teria entregado ao doutor uma carta pedindo atendimento urgente assinada pelo farmacêutico, o prefeito eleito.
O corpo do bebê desapareceu. A família calou-se. Por que?
Saudosismo é bom, porém sem exageros, pois, uma vírgula mal colocada pode distorcer a verdadeira história. 
Tempos maravilhosos são os atuais, onde a cuja deixou de ser dura e não dita as regras mais. A liberdade de expressão é um direito garantido pela nossa Constituição, diremos então só a verdade aos sábios que estão chegando ao nosso querido Planeta Água.
Os de tenra idade muitas perguntas nos farão. " Não sei " poderá ser a melhor resposta, não inventaremos. Nada está pior, a falsa impressão é que hoje temos acesso à informação.
A menina no ônibus queria apenas saber a diferença entre os edifícios na área central e os condomínios protegidos por cercas eletrificadas. A mãe não soube responder no entanto não inventou causos e nem criou caso. 
Se alguém me perguntar também não saberei responder. Pois voltei a ser criança outra vez para compreender o que não nos foi dito lá atrás e ainda não aprendi a mentir.

Autor: Neusir - Índio


quarta-feira, 2 de maio de 2012

Contos e causos do Índio - Índios em Tapiraí

- A que tribo você pertence?
Por décadas as mesmas perguntas se repetem.
- Onde você nasceu?
- Sou natural da vila Santa Catarina, depois elevada a município com o nome de Tapiraí.
- Neste lugar jamais existiu um indígena sequer!
Um dia tive que ouvir a brochante desinformação.
"Mamãe eu não quero provar nada" - um dia falou Raulzito, mas não deu -, perdão Dona Ninha, História neles!!
Eles estiveram lá, segundo dados do Historiador e ex-prefeito Chiquinho Ise Filho. Não se adaptaram com o clima e desceram a Serra rumo ao litoral. - Índio não sente frio - engana-se quem assim pensa.
A partir do ano mil e novecentos, migraram para as terras - ou mata gelada - os nordestinos e descendentes de índios, Dona Ninha estava entre eles. Casada com seu Quinho cavaram o chão, fincaram os paus, e construíram sua moradia. Caçaram, pescaram, extraíram madeiras, orquídeas e fizeram artesanatos.
A população do vilarejo do brechó, aumentou rapidamente. Seu Quinho e a esposa, contribuíram com catorze filhos.
Desde a chegada dos migrantes, já se passou quase um século, quando então gritei:
 - Aleluia! Maravilha! Eles estão retornando!
Foi a minha expressão ao receber a notícia da transferência de mil e quinhentos nativos para a região.

Jéssicas, Gabis, Docentes Schoeps, Lukinhão, Marco Pedro e demais amigos do Lâminas, o texto acima estava concluído, quando o Professor Caju entregou-me duas páginas do Jornal Cruzeiro do Sul.

Li, reli, pensei, e tenho que mudar alguns conceitos...

Transferência de Índios...

Na excelente reportagem de José Antonio Rosa, constata-se que é compreensível a apreensão do amigo Marteuski - o prefeito - e demais autoridades municipais...
Segue o noticiário com oportuno esclarecimento do Professor John Lennon, Paulo Celso, onde aborda as possíveis consequências da pura e simples transferência dos Tupis - sem qualquer infra-estrutura...
Sempre defendi que os indígenas deveriam ter o direito de ir e vir, ou ficar  onde melhor lhes conviesse, pois supostamente seriam os verdadeiros donos da terra, mas...

Tapiraí

O Município localiza-se no contraforte do Paranapiacaba, a novecentos metros acima do nível do mar. Faz divisa com Ibiúna, Piedade, Pilar do Sul, São Miguel Arcanjo e Juquiá.
O lugar de extrema pobreza e sempre esquecido pelas autoridades politicas estaduais e federais, já teve perto de doze mil habitantes, mas a população diminui a cada ano; é rico ainda no aspecto da vegetação nativa da mata atlântica no entanto a fauna com espécies em extinção já não é a mesma dos folhetos de incentivo ao turismo local.
A Região muito fria com garoa ou neblina praticamente o ano todo, torna-se imprópria para a pesca em larga escala.
A ex-terra das antas já foi a maior exportadora de chá preto da América Latina para a Europa. Porém perdeu o mercado para certo país vizinho, e a vaca foi para o brejo...
Os vídeos propagados na internet são lindos e verdadeiros, todavia não dão a noção exata do clima, que nesta época do ano a temperatura chega abaixo de zero em determinadas noites. Os tupis sabem disso?
Perdemos tantos entes devido as epidemias de meningite, entre outros. É tão triste a história que não  quero ver novamente.
Nossos antepassados não resistiram. Parte dos sete mil habitantes do município já sofre com a falta de estrutura.
Sem lavoura, caça ou pesca, velhos, jovens e crianças viverão de que?
Raízes?
Remédio caseiro?
Cesta básica?
Bolsa família?
Criação de gado? Ou a carne já virá pronta para o consumo em caminhões frigoríficos?
Não invente histórias para crianças, elas vão crescer.
Tapiraí, veja o tamanho do abacaxi!
Alvino, descasque o pepino. 

Autor: Neusir - Índio


Para conferir a matéria do Jornal Cruzeiro do Sul acesse: