sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Mc Café



















O relógio de pulso anuncia: 2h e 57min da madrugada. O palhaço Gleizzon resolve fazer uma parada no Mc Donalds para tomar um café americano.
Há tempos atrás se incomodava até mesmo em passar na frente dessa famigerada lanchonete, hoje não ligaria de ser fotografado lá dentro. Tudo faz parte do sistema, está em todo lugar, ele não poderia fugir disso.
Gleizzon tem uma visão realista das coisas, não vê luz no final do túnel, embora tenha uma tímida esperança de encontrá-la um dia. Por enquanto ele sobrevive no mundo que repudia.
O jovem palhaço gostava de frequentar esse lugar nas avançadas horas da madrugada. Era nesse ambiente que via os tipos mais interessantes. Todos fazendo sua refeição noturna, após se esbaldarem em festas que mergulharam madrugada a dentro.
Os homens naquela noite seguiam um engraçado padrão. Alguns aparentavam meia idade, usavam, entretanto, roupas de jovens, sempre de grife; calça jeans, sapatênis e camisa pólo. Outros eram bem jovens, vestiam roupas da última moda.
As mulheres todas usavam vestidos de festa, extremamente curtos. Algumas, traziam nos pés ainda as sandálias de salto muito alto, outras já haviam sido vencidas pelo desconforto e estavam descalças ou de chinelos, porém ostentavam as marcas e os pequenos cortes causados pelas tiras do calçado que usaram a noite toda.
As conversas eram as piores possíveis, no entanto Gleizzon definitivamente não se incomodava, ao invés disso achava graça naqueles papos tão fúteis. As pessoas que Gleizzon mais admirava naquele espaço eram realmente as que faziam o atendimento. Pareciam exaustas, mas sempre conseguiam sorrir, e nem ao menos deixavam transparecer a miséria que se escondia naquele ato. Trabalhadores, admiráveis, exercendo sua função com maestria para garantir o ganha pão e encher os bolsos de um canalha que lucra as custas do trabalho alheio.

Gleizzon bebe seu café e reflete sobre sua condição, pega o jornal e vira as páginas. Mensalão, eleições, copa do mundo, as mesmas notícias de sempre. No entanto, não muda nada. Tudo parece estar como sempre esteve. Um ou outro abalo aqui, uma trinca e uma rachadura ali, mas o sistema continua de pé.
A opressão segue a passos largos, e até mesmo os oprimidos, quando podem, se tornam opressores. Basta observar uns minutos para notar um ou outro cliente da madrugada tratar o individuo que está do outro lado do balcão como um verme. Até mesmo o gerente e o supervisor, que já foram como um daqueles jovens, reproduzem a opressão que aprenderam após sofrerem-na em suas peles.

Até mesmo ele já reproduziu a opressão, e caso não se policie pode vez ou outra flagrar a si mesmo cometendo este ato tão vil e mesquinho. Certa vez ouviu sobre um cara chamado Focault, que que dizia algo mais ou menos assim; "a opressão mantem-se por que está instalada em todos os poros da sociedade e da vida cotidiana".
Pensar nisso arrepiava-lhe a espinha. É neste momento que ele termina seu café, ajeita a jaqueta jeans sobre os ombros e saí em direção ao estacionamento.Chegando lá encontra algumas pessoas ouvindo musicas que expressam o mais genuíno lixo da industria cultural, perto daquilo até mesmo o tosco álbum da "Malhação de 2001" parecia ser Old School.
Ele gira a chave no contato e segue para casa, onde vai beber alguma coisa alcoólica e revirar na cama até conseguir dormir.


Marco Aurélio

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