quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Agradecimento


O filme acaba, a cortina fecha
Num fundo negro com letras brancas
Nomes escritos e pouco lidos
A vida passa, um filme passa
Num fundo solar com pessoas lunares
Nomes escritos nos túmulos

Agradecer, pedir e a terra girar
Num quadro em branco
Padecer, sentir e a terra girar
Num quadro negro
Proceder, lutar e a terra girar
Num quadro multicor


OTÁVIO SCHOEPS

terça-feira, 25 de novembro de 2014

Em todos os cantos


No conga, no altar, na caverna, o pedido feito
A previsão vislumbrada
No sonho, no pesadelo, o pedido refeito
A visão embaçada

O previsto malquisto
No agora, no momento, o ato feito
O visto esquecido
No sonhar, no pesar, o ato refeito

Nas brumas e as plumas
O vôo nebuloso
Nas andanças e os becos
O caminhar torto

O traçar e as flamas
No caminhar interrompido
O vislumbrar e as chamas
No torto caminhar


OTÁVIO SCHOEPS

domingo, 23 de novembro de 2014

NEGO


A notícia circula com alarde
A solução é castrar, prender e matar
A polêmica está no ar
A mídia e o alarme

O inimigo público identificado
Aos berros a população julga
O amigo público identificado
Aos berros a população o divulga

Como poste sem luz, os posts propagam
Com a vida ameaçada, as mortes espalham
Como pavio acesso, as notícias vinculam
Com argumentos rechaçados, as mentiras creditam

A solução apontada é um blefe
Aos berros, nego
A polêmica instaurada é um blefe  
Aos berros, nego


OTÁVIO SCHOEPS

sábado, 22 de novembro de 2014

Conhecimento/Sofista/Sofisticado


Conhecimento rotula e desprende
Adequar e julgar
Conhecimento e rótulo frio
Xingar e condenar
Conhecimento e as relações quentes
Queimar e purificar

Conhecimento prende e desmente
Analisar e classificar
Conhecimento e a vida por um fio
Atestar e comprovar
Conhecimento comprado e vendido
Comprar e se vestir


OTÁVIO SCHOEPS 

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Partido

Tomo partido
Das dores e dissabores,
Daquilo que está dividido,
Daquilo que não foi nem dito


Daquilo que supera o ambíguo,
Do individualismo de Narciso
Dos odores e as dores
Daquilo que enumera os tremores

Da justiça de Niké
O bem me quer e o mal me quer
Com balança e a espada aos seus pés

A espada dilacera,
Mas não é a justiça que espera
A luta severa,
Mas não é a ideia que persevera

O parto, o fardo e o fato
Partidos, daquilo que a sociedade espera
O mar morto, a vida vendida e o acúmulo
Partidos, daquilo que a sociedade aglomera

Da injúria de Baco, é o viés
O bem mal sabe

Com matança e a culpa pária  

OTÁVIO SCHOEPS/ RODRIGO PETIT

MTST-SP


O prédio central valorizado e simbólico
Não tem cercas brancas, nem tampouco um gramado cheio de crianças
O prédio central cercado de polícia e justiça
Não tem justiça, nem tampouco política

A marcha segue
Morar num prédio ou num cemitério
A mancha segue
Estancar o sangue ou tomar remédio

O acúmulo primitivo e moderno
Não tem água, apenas as avenidas concretas
O cumulo e o absurdo
Não tem ar, apenas a fumaça do progresso

A rotina segue
O passar do tempo alienado
A morfina segue
O passar do tempo amordaçado


OTÁVIO SCHOEPS

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Riopolis


As cidades crescem tortas e mortas, os rios serpenteados
As cidades não civilizam, animalizam, a reta marginal
As pessoas crescem tortas e mortas, a cidade e suas vias
As pessoas não humanizam, animalizam, a via marginal

Dos animais naturais
Os animais civilizados
A cabeça, o tronco e os membros
De nada servem, só servem

As cidades crescem na lógica destrutiva
As cidades conurbadas, não se juntam
As pessoas próximas se odeiam, não se unem
As pessoas decrescem na lógica individualista

Dos animais evoluídos
Os animais no topo
A cabeça, o tronco e os membros
De nada vivem, só morrem


OTÁVIO SCHOEPS

Certa Incerteza


A certeza é o presente passado
Prestes a desistir, resisti
A incerteza é o futuro almejado
Prestes a fugir, defendi

O calor ainda fustiga
Prestes a clamar, exclamei
O frio ainda enrijece
Prestes a aceitar, revoltei

A lei nos puxa para baixo
Prestes a tolerar a gravidade, voei
A liberdade nos empurra para cima
Prestes a ficar sem ar, sufoquei

A beleza é o presente encarnado
Prestes a acreditar, duvidei
A tristeza é o futuro ditado
Prestes a ceifar, iluminei


OTÁVIO SCHOEPS

sábado, 15 de novembro de 2014

Beira Mar


A beira mar debaixo de uma árvore
O vento suave, as folhas se movem
Numa dança cadenciada
O mar azul e as ondas juntas
O céu azul e as nuvens dispersas

Sobre a vida contemplada
Sobre a vida ditada
Sobre a morte anunciada
Sobre a morte editada

A ventania, as folhas caem
A ressaca do mar arrasta
E o céu se acinzenta
Numa força da natureza, justiça divina
O sol se esconde

Sobre os morros desabados
Sobre as ruas alagadas
Sobre o lixo acumulado
Sobre o luxo imaculado


OTÁVIO SCHOEPS

Testamento


Na lavoura a praga é combatida
Na luz a escuridão é negada
Na bíblia o pecado é combatido
Na vida a morte é negada

Na sociedade contraditória
A competição é alimentada
Na sociedade contraditória
A usura é premiada

A lavoura não alimenta, esfomeia
A luz escurece
A bíblia não redime, condena
A vida morre

Na sociedade estamentada
A competição é entre os iguais
Na sociedade estamentada
A usura é o mais e mais


OTÁVIO SCHOEPS

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Sombra e Água


A sombra e a água fresca
Do comum ao improvável
A canseira e a esteira
Da necessidade ao condenável
                               
Ô laia, da mata abundante à monocultura
Da necessidade ao mercado
Ô laia, da cana-de-açúcar à cachaça
Do natural ao transgênico

A sombra das árvores e a nascente límpida
Do natural à natureza vendável
A hora do Sol e a hora do relógio
Do tempo desfrutável

Ô laia, da boiada ao trem de carga
Do caminho empoeirado à estrada enfumaçada
Ô laia, esse mundo velho sem porteira
Das terras cercadas à posse ameaçada


OTÁVIO SCHOEPS 

terça-feira, 11 de novembro de 2014

Simples fato


Simples sem ser simplista
Análogo sem ser anacrônico
Vivo o passado
Sem que os mortos revivam
                                    
Uma piada dita
O escárnio sentenciado
Um fato recriado
O julgo manipulado

Simples é o curso
As pedras no percurso
Vivo a vida
Sem que as atitudes me ditem

Uma brasa acessa
A água ilesa
Um fato consumado
O regresso malfadado


OTÁVIO SCHOEPS

sábado, 8 de novembro de 2014

Labuta

Oh! Labuta bendita Que surra dia a dia
Que tira vida dia por dia
Oh! Labuta bendita
Que aliena a alma
E explora a carne
Exploração, insurreição Negros, brancos, índios e pobres... Na mesma miséria vendida da mesa, da escola, da saúde, Da vida do trabalhador!
Estoura a corrente, No grito da alforria Alforria disfarçada e reforçada pela minoria Que mata na exaustão da combustão Sufoca o grito um pouco por dia na obrigação
Oh! Labuta bendita Oh! Alienação besta! mantém o sistema No disfarce de cada dia Reforçada pela minoria.
O grito ecoa, no grito da historia Na luta de Zumbi, que ainda se faz presente! Liberta o grito da maioria! Na insurreição 
Fernanda Garcia

Belo Monte/Canudos


O clima árido do nordeste brasileiro à Palestina
A luta se trava e o sangue ainda jorra
A pouca seca do sudeste brasileiro à Palestina
A luta se trava e o sangue ainda jorra

A aridez, a pele queimada e a caatinga
Os conselhos seguidos
Antônio Conselheiro Bendito
A aridez, a pele queimada e a mata atlântica
As ordens cumpridas
Coronéis malditos

O clima árido e a palavra que encanta
A luta alimentada
O santo, o mito, o messias
A luta cantada

O santo sepulcro e o sepulcro de tantos
A marcha para o Belo Monte
O campo santo e o campo de tantos
A marcha para Canudos
Os conselhos seguidos
As ordens cumpridas


OTÁVIO SCHOEPS

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Reza e Praga


Entre a pressa e a promessa
O dia escurece
Entre a pressão e a tensão
A noite enaltece

Andando pelas vias congestionadas
O dia se perde
Nadando pelas águas poluídas
A noite se perde

Entre ser presa ou caçador
A vida escurece
Entre ser preso ou libertador
A morte enaltece

Andando pela riqueza
A vida se perde
Nadando na pobreza
A morte se perde


OTÁVIO SCHOEPS

Sobre a miséria da existência


 ``Fui posto a caminho entre a miséria e o sol” (Albert Camus)

  Quanto ao fato de sermos homens nos traz culpa e angústia e toda sorte de sentimentos comuns ao nosso cotidiano podemos exigir o que de nossa vida além de uma revolta anterior a nossa vida. A miséria humana é espalhada por toda a terra e podemos observar todas as condições dos homens frente ao desespero humano não existe precedentes na sociedade moderna em que podemos ver o homem extremamente em descompasso com sua vida não podemos vislumbrar nada apenas podemos ver a cada dia nossa miséria forçando cada vez mais nossas mentalidades. Não podemos exigir soluções da vida ela não nos traz nada mais que uma realidade invertida mistificada pela sociedade mediada pela modernidade podemos então escapar as soluções do cotidiano nos revoltando frente à realidade da miséria humano física e existencial frente ao sol debaixo dessa estrela radiante. Talvez nada possamos fazer apenas a revolta nos é dada como solução onde a vida é um caminho de miséria em que todo homem passa sem estar imune as condições materiais e vivências dessa experiência.


Bruno Neto

terça-feira, 4 de novembro de 2014

A SAGA ÉPICA DE MINHA ESPÉCIE: Anthropos


Homem! Criatura errante que tem rastejado
improficuamente pelos séculos em fúria.
Primata descarado que vive acorrentado
à fria ampulheta de luzes e trevas da História.

Macaco matreiro que caiu da árvore,
seu bipedismo conferiu-lhe evolucionária vantagem
para percorrer a geografia de todo o orbe terrestre.

Sobreviveu estoicamente à glaciação das eras
deixando pintada nas paredes das cavernas
a imagem ocre de suas mais vãs crenças e ilusões.

Lascou sorrateiramente a obsidiana e domesticou o fogo,
as constelações, os cereais, o falcão e o lobo...
Tendo vertigens, interrogo-me: quem te domesticará, ó Homem?

Ah Homem! Olhando fixamente para o espelho 
reconheço-me sinistramente em sua figura,
pois quantas vezes largados feridos e desolados
uivamos incompreensivelmente, juntos, a noite, à luz da lua
 as mais nuas e profundas angústias existenciais de nossa espécie?

Homem! No torpor de nossa raça, no turbilhão das gerações
o fruto amargo de seus genes condena-me, ó ser mundano...
Pois já fui habilis, já fui erectus, sou sapiens
e agora só me resta: SER HUMANO...


RODRIGO PETIT- 29|10|14
Poeta das Causas Perdidas